segunda-feira, 2 de abril de 2012

Questionamentos internos

Ato I - Eu não sei o que se passa, só sei que preciso parar.


- Eu tenho um monstro dentro de mim. 

- Porque?

- É a única explicação plausível para tudo que anda me acontecendo, para tudo que anda passando pela minha cabeça – É um monstro terrível que engole tudo de bom que vem à minha cabeça imediatamente. É insaciável e não quer parar. 

- E ele mastiga, mastiga, mastiga e nem pó sobra?

- Não sobra nada. Não sobra eu, não sobra nem sombra de quem eu fui. Enquanto esse monstro me devora, meus olhos lacrimejam e meu pelos arrepiam.

- Ora, feche os olhos. 

- Mais que isso: aperto-os forte, como se estivesse apagando tudo que, anteriormente, foi pensado.

- Mas não resolve?

- Não. Eu devo ter também um buraco negro dentro de mim. É a única explicação razoável para tudo que se perde todos os dias, todos os instantes, para toda a energia que vejo nascer, mas nunca vejo se pôr – esse buraco negro é fortíssimo, fazendo com que momentos luminosos pisquem e apaguem - como luzes defeituosas de natal – para nunca mais acenderem. Perdeu-se, foi-se e não poderá ser recuperado.

- Permaneça de olhos fechados, mas agora segure e aperte sua própria mão, como se pudesse impedir algo bom de ir embora. “Fique”, sussurre.

- Não dá. Eu tenho algo entalado na garganta. É a única explicação compreensível para poder justificar tamanho nó – e seja o que for, não deixa nada descer, fica tudo preso, tudo entalado. Tem um trânsito gigantesco que nunca se movimenta, nunca muda, tudo porque esse nó não se desata. Sinto-me estufado. Mas não de comida, das pessoas. Não quero conversar. Não quero abrir a boca. E daí, já nem sinto que estou de olhos fechados, parece que nasci daquele jeito.

- Seus conflitos são tão complexos e incompreensíveis. Como poderia alguém te ajudar? Não resta alternativa, não há saída. Se você não resolver o problema, ninguém irá.

- Eu sei. Ninguém pode me salvar. E nem quero. Entrei num abismo profundo e sem volta. Onde nem as cordas mais longas podem alcançar, e onde nem mesmo o mais estrondoso grito pode ser escutado. É um calabouço. Sinto-me acorrentado.

- Mais eu sei. Eu sei o que você tem.

- O que? O que tenho?

- Você tem Amor! Amor dentro de si. É a única explicação absoluta para tudo que vem ti abalando, por todas as transformações que ocorreram, por toda a esperança esmagadora que te deixa acordado durante a madrugada e desacordado durante o dia. Esse Amor não te deixa desistir, não te deixa ir embora, não te deixa escolher o desapego. Esse Amor te permite muito. Permite enxergar um mundo de cegos, guiados pela maior força, pela maior dor, pela maior alegria, pela maior satisfação. Tudo se soma e se subtrai dentro de ti para gerar amor, amor que direciona a uma só pessoa.

- Amor? Direcionado a alguém? Mas a quem?

- Bom (...) Não sei. Talvez esteja errado. Talvez esteja ficando louco. Louco. Mas segundo este amor, "algo deve faltar".

- Mas não... Nada falta e tudo transborda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário